terça-feira, 28 de agosto de 2007

O Homem Duplo

"Eu nunca mais vou fazer [insira atividade escolhida aqui]."

Soa familiar. Todos nós já nos encontramos nesta situação em algum momento. Todos nós já sentimos aquele remorso agonizante logo após ter feito algo que sabíamos que não deveríamos ter feito. Seja ele comer chocolate demais depois do jantar, tomar um ou dois drinks a mais naquela festa que causou o PT, ou ingerir aquela substância desconhecida que sabíamos que nos iria causar mal caso experimentássemos. Todos nós já fizemos alguma coisa da qual acabamos nos arrependendo no final.

O Homem Duplo conta a história de Bob Arctor (Keanu Reeves), um detetive que está tentando desvendar os mistérios do mundo das drogas e chegar aos fabricantes de uma nova substância chamada "Substance D". Para conseguir fazer isto, ele entra profundamente nas vidas de seus amigos viciados e acaba do lado errado da briga. As voltas e reviravoltas que o filme dá somam-se à realidade [ou o surrealismo] apresentada ao público de como a vida sob o efeito das drogas é imprevisível.

As diferentes técnicas de animação também ajudam a dar ao público um olhar interno de como é a vida de um viciado. Todos os personagens aparentam estar num transe 2D e o fundo de cena parece girar com cada movimento da câmera.

A mensagem central do filme é que a indústria das drogas é muito mais complexa do que as pessoas imaginam. O "inimigo" é sempre a última pessoa que se imaginava que ele fosse. Claro, você pode achar o que quiser sobre o que o diretor [ou o próprio Philip K. Dick] quis dizer com o filme, mas tenho certeza que será algo nessa linha.

A adaptação de Richard Linklater do livro escrito por Philip K. Dick é extremamente bem feita.

Uma última consideração: certifique-se de que você não esteja cansado ou deprimido quando for assistir ao filme. Ele tem um efeito profundamente calmante. Você sai do filme em transe. Um efeito que, mais uma vez, foi intencional, não tenho dúvidas.

- Gabriela Becker

segunda-feira, 27 de agosto de 2007

Lafusa - Quadricolôr

O EP Quadricolôr, da banda brasiliense Lafusa, é uma mistura – bem feita – de rock com MPB. As 8 canções possuem letras e arranjos bem trabalhados. Inicialmente o som pode lembrar o de outros grupos, como Los Hermanos, mas quando se presta um pouco mais de atenção, percebe-se que o Lafusa possui identidade própria. As músicas emocionam, mas não de um jeito “emo”. O sentimento realmente está presente, mas de maneira inteligente e densa. É uma obra independente que deve ser apreciada, por, em um momento em que o rock nacional parece massificado, destacar-se exatamente por seguir um caminho oposto: o da originalidade.

- Thais de Luna

Relembrando 68

Com certeza éramos jovens, éramos arrogantes, éramos ridículos, éramos exagerados, éramos levianos, mas tínhamos razão.
- Abbie Hoffman

O filme de Gabriele Muccino, “Para Sempre Na Minha Vida”, pode, à primeira vista, parecer leviano; apenas mais um romancezinho adolescente sobre a difícil transição entre a infância e a idade adulta. Entretando, o filme é capaz de capturar cruamente aquele momento mais saboroso e doloroso da vida. Aquele momento em que nós não sabemos bem o que queremos da vida; aquele momento no qual tudo parece ser o mais importante que já aconteceu em nossas vidas; aquele momento em que um sim pode significar a salvação da humanidade e um não o apocalipse, o fim do mundo.

Os detalhes do filme tornam-se irrelevantes e viram pano de fundo de uma discussão ainda maior, presente desde que o mundo é mundo. O fato dos personagens principais se interessarem mais nas suas vidas amorosas do que na ocupação da escola e no possível movimento estudantil contra as injustiças do mundo é um claro comentário a cerca da realidade da juventude atual. A juventude de hoje não consegue encontrar ideais reais para lutar. Ela baseia-se apenas nas cópias do que já foi feito. Tudo já foi feito, tudo já foi dito. Por quê então lutar se a batalha já foi combatida, o bem fracassou e tudo continuou como antes?

Todas as gerações querem mudar o mundo. Mas mudá-lo não é fácil. Todas as gerações procuram o seu líder para servir como exemplo e levá-los a lutar pela vitória de seus ideais. Mas para ser um líder é preciso ousar dizer algo diferente e o mais difícil é achar algo diferente para dizer que não tenha já sido dito.

Por que será que só as gerações anteriores puderam construir a história com suas lutas? Como diz o filme, “nós não temos mais os mísseis do Reagan contra os quais lutar”. Será que ainda existem ideais pelos quais lutar? Será que os ideais, pelos quais os nossos pais e avós lutaram, continuam vivos até hoje? Será que a luta de hoje será vista com os mesmos olhos pelas próximas gerações? Será que no futuro acharemos que a luta de hoje foi uma tolice? Será que tudo vai acabar esquecido depois da nossa morte e vai ser como se nem tivéssemos vivido? Será que só mesmo a arte pode ser imortal? Só o tempo dirá.

- Gabriela Becker

E acabou no esquecimento...

No começo do ano de 2007, um crime bárbaro e cruel chocou os brasileiros. Em uma tentativa de assalto, uma criança de apenas seis anos foi arrastada, presa ao cinto de segurança do banco de trás do carro, por sete quilômetros, no Rio de Janeiro.

Segundo testemunhas, foi uma verdadeira cena de horror cujos bandidos sabiam o que estavam fazendo, sendo um deles menor de idade.

Tal fato teve grande repercussão e gerou uma intensa discussão no país sobre a redução da maioridade penal. O assunto infiltrou-se nas conversas populares e chegou ao senado. Os bandidos foram presos e nada relevante mudou em relação à maioridade penal.

A família do garoto começou uma campanha, com a finalidade de que esse assassinato não fosse apenas mais um ato de violência e que, principalmente, não caísse no esquecimento da população e dos governantes, no entanto, não obteve sucesso. Vieram os caos aéreos, que não deixam de ter sua importância, mas diferentemente da violência, só afetam a menor parte das pessoas, e outros assuntos também surgiram, apagando da memória o caso de João Hélio.

Um caso tão sério, chocante e triste foi mais uma demonstração de violência no país, um país regido pelo descaso dos políticos e que tem seus problemas esquecidos pela própria população. Mas infelizmente, essa é a realidade do Brasil, com o tempo, tudo acaba no esquecimento...

- Amanda Rodrigues